domingo, 5 de dezembro de 2010

Física

Abdiquemos das meias e do pente, tanto de temor de aprender por esquecer.
Esperemos pela lua sobre o sol, a subjectividade do sinal é mentira.

Tempos volvidos, inundo a quente as cores da obra que é já viva, não é razão que aprecia,
é ignorância que corrige a simetria não sabendo, glacial aritmética Ocasional e esgadelhada sem que o álcool interfira.

Compras-me para sempre o negro dessintonizado, por necessária dilecção, e sob um sol torturante revelas-me gratuitamente a esperança.

Afonso, Nadir

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Três sonhos

Vamos passar agora para a região hipnótica, vou chamá-las quando puder.
Não exijo que as veja, apenas comparação. Se for picante ou salgado não posso.
Nunca caio nestas lutas onde me vejo, sei porquê. Nunca as duplico.
Controlo os agentes, tomo a pedagogia e acerto o cérebro, a luz e aplico.
(após o nascimento as consequências enveredaram-me pela direita, sem remorso)

Do rés-do-chão ao terceiro a vaguear. Enclausurado no elevador. Consegui não passar.
O jantar como pedi começa como nunca por canja.
Deleito-me, ou deito-me no sofá a ver na televisão o que posso e a mudar.
Quando houver que tenha a hortelã do teu pomar. Hoje talvez volte a comer uma laranja.

Yerka, Jacek

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pescoço

Tudo é diferente em instantes, desarranjo e paralisia engendrada.
Ainda não adivinhei o que ilegalmente se extingue, se nunca o disse.
O meu tempo vindouro sempre em salva engrandecida.

Um pouco mais sério e com muita sede, mais amedrontado a cada minuto ou menos impaciente, pendi-me no muro que se afastou do leito, coloco os óculos e aliei-os noutro.
Uma vez desocupadas as garrafas, aceitas controlar o carro pela minha intenção? Breves minutos de amanhã, enquanto dissolvo a carência esta noite, de um lado para o outro?

(Só. Para tentar adivinhar a solução)

Yerka, Jacek

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sono

Resina morna ou saliva fria,
tenho à vista a primeira solução.
O papel sem rasgar desfazia, errei o material, temperatura e na mão.

Perdido no tempo e voltando no espaço, bati de frente já tão longe em marcha-a-trás fora de mão.
Sem culposos mais recentes com razão ou dano clássico que os ofusca.
Rasguei o teu/nosso vazo em fragmentos, que em carne e osso e um beijo colento que gela, só agora desarrumado e completo ou quase já na Capela, em primeira (mão) não me trazes.

Olbinski, Rafal

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Inacabada

De latim que nunca usei, não esgotarei, se mais rabisco menos tenho de ortografar.
Redijo sobre o passado que é destino, já gozo de tudo sobre o qual posso compor.
De novo só ela ilusória, parecendo que não é se não for ou menos canção disfarçar.
Seu firmamento nunca é de cá. Pesas-me as duas mãos no coração e não irrompe.
Descansa, outras línguas surgirão, horizontes brotarão, se vão depor.

Imóvel, numa ânsia doentia de criar.

Escher, M. C.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tempo

Um dia quinze minutos depois de ontem, envelheço só de passagem. Amanhã serei de amanhã.
Num dia de horas a mais de hora vã, se eu não a tenho que a encontrem.
Isso pode, nós fazemos o tempo. Que tente achar alguém que este lugar não é só meu.
Ensaiando dar prazer furtivo, com rodeios, vejo o longo caminho terminado.

Fico em ontem revigorado, tempo a menos reunido, par sabido,
legalmente contentado e sem preâmbulo, pena aceite que demanda.
Só café e uma varanda, meu recanto que se esconde, hoje imenso para sempre que forjei.

Yerka, Jacek

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fobia

Por algumas milhas abdico.

Fomos ao mar como pediste, tão impermeável que ela fugiu. Se estamos juntos já me inventaste.
Ela não pode sair hoje à noite, no oceano demasiado denso e agora rompido e oculto sem aparente desgaste. E se é assim também fico.

No fundo do rio quieta uma luz, factos que não pode esconder, espinhos que talvez consigas fintar,
se eu entorpecer,
ou te reconheça por ter tomado em casa um café a mais se puder,
não entendendo agora (e só assim) a vastidão medonha e singela do lugar.

Yerka, Jacek

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Caminhos

É obrigatório mais do que um território para disputar, não quebrar com este vizinho abastado tranquilo.

Ontem acordei e encontro as incógnitas e exclamações que não queria, talvez não tenha lavado vezes exactas as mãos durante o dia. Ou não consegui evitar as correntes de ar necessárias.
Um sentimento bom ou terrível de paixões facultativas várias. Aquele em que me liberto de gostar ao entender porquê.
Se não tivesse adormecido e encontrado no teu silêncio à mercê, sem favores ao despertar,

perdia.

Gonsalbes, Rob

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Luzes

Vagueio pelo teu olhar e a minha cidade considera demasiado e não gosta.
Vou fazer de tudo, procurar o que não sei que não vi mesmo que tenha de ser de avião.
Sinto o receio sem medo de te ver cair, de um resultado impossível ou eficaz.
De cima promovo um banho de tulipas ou jasmim na cidade a preto e branco, ou branco imenso como a folha da próxima lição.
Vou derrapando pela corda e todo o lugar que descubro é só mais um onde te invento e encontro o aroma ou tu não estás.

E o lugar que evoco parece agora entoar-te um sim.

Olbinski, Rafal

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Zero

Harmonia de traço e sentido, nenhuma não mais do que outro.
De todos prefiro o vazio, sem nada, a poente o encontro.

Sem sentidos ainda apurados
poente de aromas que nascem nas fendas que o abalo afastou.
Novatos na paz sofrimento, pedra dura, sem amparo, o zero que quebra e se esvazia em nada,

e um velho jardim a nascer.

Ernst, Max

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Pinheiros

Aconteceu. As coisas más nunca são belas. As marcas nunca apagadas. Cada vez mais ténues, cada vez mais perto do fim.

Inverto e encontro a organização na corrente de ar onde a paranóia me condiciona o raciocínio.
As árvores golpeadas vão ganhando autonomamente ramagem e o ar pesado leva-me a acreditar que a trovoada as vai tentar destruir.
As mesmas armas num quadro aterrador e belo.
(ninguém tem tempo)
Indefeso, encerro e amparo-me na graça de tal nunca vir a acontecer.

Yerka, Jacek

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

5 Minutos

Talvez a introdução me exigisse, ou o jornal que nunca deixou de ser lido ao contrário, a pergunta que continua por escutar, o sonho que já tive e quis apagar.
Encontrei-te numas dessas estações, num desses passados onde me perguntas, olhando ao infinito, pelo fado. Quiçá necessite refazer a viagem, alterar a resposta ou expatriar-me.
Tal e qual amanhã, sem regra nem tempo, te descubro ou invento. Te invento nas regras do tempo, como agora, e te invado p'ra sempre o olhar.

Ernst, Max

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ser

Admitido. Acredito que exagero. Talvez te dê de presente uma rosa ou um nome diferente para compensar. Ou no futuro como castigo, se não aceitares, um par de meias das muitas que tenho e usarei para consertar. (Talvez não seja o termo mais ajustado)
Pode ser que também cosa as cascas e te faça um colar.

Era quiçá preferível ser normal e cozer as batatas e a couve. (E pensando agora melhor, dar-te-ia uma planta em vez da rosa)

Foi o que fiz, alternando a minha presença na cozinha e sala onde tenho a TV e a aparelhagem, olhando esse ruído que de vez em quando ouço e tu vês. Também para fugir ao calor amplificado pelos bicos do fogão. (Prevejo o desenlace)

Desligo agora e tiro do lume, sem carne nem peixe ou homólogos.

Mas primeiro, para reparar, procuro um termo condigno, que pesco ao passado, sem absurdezas, sem espécie de classificação. Com classe.

Yerka, Jacek

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Tâmaras

Deleito-me na contradição da sua doce textura caramelizada. Como um todo verdade, de alicerçada estrutura.
Estimula a formação de melatonina que pode contribuir para neutralizar a insónia.
Todos os dias as devoro, várias vezes, de quatro em quatro.
Visto assim, hoje dormirei tão bem como ontem, capaz de ouvir a letra e contar.

(Tenho um copo. Uma base. Nicotina. Quatro.)

Vou esperar o primeiro quarto de hora ao segundo, mas hoje talvez não durma.


Renall

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Divino

É tarde demais para ser fechado, está dentro de nós.
Disseste que hoje sei exactamente como me sinto,
apaixonado pelas minhas dúvidas, com saudades do real.

Amantes da vida numa caminhada à beira do rio cujo leito estreita sem anunciar… suprimindo a nossa margem.
- É deus! Ou minha ira!

À noite quando dormimos limitados ao cosmos, só para acreditar no que me dizes, mesmo antes de dormir, logo antes de acordar!

Ainda em sonho ao pequeno-almoço: um café e uma mentira!

Yerka, Jacek

quarta-feira, 31 de março de 2010

Noites

Basta dizer algo perfeito, algo que eu possa roubar!

Furto-lhe a máscara que derramo no seu colo,
derreto-a como por magia e clamo:
- Não sinto dor por tudo o que acabei de destruir!

Já com traje mais apreciável e corajosamente ainda sem preces, pressinto com a certeza e o sossego (por hoje) dos deuses:
O nosso futuro chegou, virá!

E tu encorajada, com a cabeça no meu ombro e relembrando as mil frases que escrevi com o olhar, sem saberes, sorris…

Olbinski, Rafal

sexta-feira, 5 de março de 2010

Diamantes

O que busco não se encontra neste trajecto sem novidades nem leis.
O que demando esbarra-me na coluna enfraquecendo-a. Todos os dias o encontro.
Por outro lado, é exactamente o que faço que sempre me perseguiu na minha dianteira.

(Pelo retrovisor e um pouco mais curvado, entoando):
Vou ser cada vez mais velho, maior, contigo, entretanto…

Yerka, Jacek

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cintos

Animais, vegetais, minerais. Artificiais, sintéticas, inorgânicas.
Malhas, tecidos planos. Artesanais.
Ontem e hoje que penso e vi. Sem relevo.
Cintos que não uso, que comprei, colecção: um saco de lixo. Mecânicas.
Diferentes. Uma montanha. No chão.
E apenas um que gosto. Vermelho e laranja que não tive. Novidade.
Sem dinheiro, segurança. Até menos religião.
- Podes ir cinto, eu fico bem sem te sentir: Liberta-te! Se sentires: vive!
Seguro e sem vaidade.

Ernst, Max